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Bolsonaro “destaca” resultados de Mandetta
Por José Arnaldo de Oliveira
Em plena crise do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro usou na tarde deste dia 15 de abril uma tabela que destaca o trabalho do ministro ou ex Luiz Henrique Mandetta, da Saúde – mesmo em meio à crise política entre ambos.
Os dados sem fonte identificada, como costumam ser as postagens presidenciais, afirmam que os óbitos por milhão de habitantes do novo coronavírus são 388 na Espanha e assim em outros seis países europeus até a Alemanha, com 41. E o Brasil, com 7 (no cálculo sobre as 1,5 mil mortes sobre a proporção escolhida).
Dessa forma, o número poderia mostrar o bom resultado do isolamento social apoiado pelo Ministério da Saúde e aplicado por governadores e prefeitos.
Na verdade, é para ser usado por uma flexibilização defendida pelo presidente, que já chamou o vírus de gripezinha. A conspiração, dizem os bolsonaristas reais ou robôs nas redes sociais, tem como alvo a ruína da economia, dos empregos e do próprio governo.
O discurso é o quase o mesmo de Donald Trump nos Estados Unidos, que também briga com seu chefe da saúde e acaba de cortar recursos da Organização Mundial de Saúde. A teoria da manobra chinesa é difundida entre apoiadores nos dois países, mesmo já causando processos por racismo.
Tudo indica que o presidente Bolsonaro vai tentar um cavalo de pau no rumo da crise. Ele reforçou o elo com apoiadores olavistas e militares – e até, em vídeo messiânico na Páscoa, com evangélicos (não só místicos, como mostra a filiação de dois de seus filhos ao partido Republicanos, ligado à Igreja Universal). Sua principal campanha até o momento havia sido pelo uso da cloroquina.
Resta saber se vai ter apoio de parte dos médicos, cientistas, políticos e população em geral. Na eleição de 2018, teve 40% do total de eleitores, mas isso não é apoio incondicional. A recessão da economia pede respostas conjuntas com a saúde pública. E até mesmo os números que usa para atacar Mandetta são facas de dois gumes.
E, claro, é de vidas o assunto central.
José Arnaldo de Oliveira é jornalista e sociólogo