
Continental reconhece ter sido parte importante da máquina de guerra de Hitler
Uma das maiores fabricantes mundiais de autopeças, com fábricas na região, reavalia seu passado nazista
O “Financial Times” publicou que a Continental, uma das maiores fabricantes mundiais de autopeças, com unidades em Jundiaí e Várzea Paulista, foi um “pilar” do esforço de guerra nazista e explorou cerca de 10 mil trabalhadores forçados. A própria empresa encomendou um estudo sobre seu passado nazista.
O estudo de 870 páginas constatou que a Continental foi “um dos mais importantes fornecedores” do Terceiro Reich, fabricando pneus para carros e aviões, lagartas para tanques, mangueiras, freios hidráulicos e instrumentos de precisão usados nos mísseis de cruzeiro V-1.
A companhia, cotada na bolsa de valores de Frankfurt, encomendou inicialmente o relatório ao historiador Paul Erker em 2015, com certo atraso com relação a algumas outras das grandes companhias alemãs no estudo de seu papel durante a era nazista. Daimler, BMW e a fabricante de autopeças ZE já foram tema de relatórios semelhantes, e a Volkswagen começou a pesquisar seu papel no esforço de guerra nazista ainda na década de 1980.
“O estudo demonstra que a Continental foi parte importante da máquina de guerra de Hitler”, disse Elmar Degenhart, o presidente-executivo da companhia, que acrescentou que a pesquisa era necessária “a fim de termos mais clareza sobre o capítulo mais sombrio da história de nossa empresa”.
O relatório da Continental, produzido por Erker, que é professor de História na Universidade Ludwig Maximilian, em Munique, constatou que na década de 1930 a diretoria executiva “recebeu com euforia a tomada do poder pelos nazistas, e expurgou os membros judeus do conselho supervisor, em um processo de arianização”.
Fritz Könecke, o presidente da Continental no período da guerra, que posteriormente se tornaria presidente da Daimler, a controladora do grupo Mercedes, na década de 1950, era um homem “oportunista” e encarava a colaboração com o regime nazista na melhor das hipóteses de modo “ambivalente”, o estudo concluiu.
Erker, que escreveu histórias de empresas como a Bosch, descobriu que, perto do final da guerra, os trabalhadores forçados a executar tarefas como testar solas de calçados eram “explorados e maltratados, e sofriam debilitação e morte”.
Prisioneiros de campos de concentração, usados na produção de máscaras contra gás, “estavam sujeitos a condições de vida e trabalho desumanas”, o relatório acrescentou.
As constatações do estudo serão incorporadas aos programas de treinamento de pessoal da Continental, e a empresa vai patrocinar uma bolsa de estudos acadêmica para pesquisas sobre a história empresarial da Alemanha na era nazista.