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 OSCAR 2022 – “No Ritmo do Coração”: muito mais que uma sessão da tarde
17 de fevereiro de 2022

OSCAR 2022 – “No Ritmo do Coração”: muito mais que uma sessão da tarde

Por Sarah Bulhões

Sabem o que eu mais adoro ao terminar um filme? Ter a certeza de que o meu pré-julgamento estava errado. Que delícia é se sentir surpreendida, com vontade de conversar com os amigos e familiares, pelo simples prazer de falar sobre um filme. E nem precisa de vinho para acompanhar. “CODA – No Ritmo do Coração” é um desses filmes. Ao ver o pôster, não me apeguei em praticamente nada, inclusive, achei que fosse um musical. Mas às vezes, assistir às cegas pode te entregar um resultado um tanto quanto incrível. 

Nos primeiros minutos, acreditamos que veremos a receita perfeita de um filme adolescente, com seus dramas familiares, incertezas da vida e canções previamente selecionadas para nos fazer chorar. Mas não. 

Claro, “CODA” (Children of Deaf Adults ou Filha(o) de Adultos Surdos) é sobre a jornada de uma jovem garota, mas não somente isso. No longa, Ruby Rossi é a única ouvinte da família, já que todos os outros são surdos, inclusive surdos na vida real e esse é o maior acerto da diretora Sian Heder, que seleciona atores e atrizes para tornar o filme ainda mais leve e genuíno, como a belíssima interpretação de Marlee Matlin no papel de mãe, sendo a única atriz surda a ganhar um Oscar de Melhor Atriz. 

Na história, que aparentemente tem uma premissa simples, a família mora em uma cidade pesqueira nos Estados Unidos e, todas as madrugadas, acorda para embarcar e trabalhar. Por serem surdos, Ruby precisa ajudá-los diariamente, como se fosse uma intérprete da família. Isso se estende para consultas médicas, entrevistas e na própria venda dos peixes. Mas Ruby ainda tem a escola e o amor pela música. Paradoxal à família, a garota adora cantar. 

A partir daí, o conflito que, com muito louvor, não soa como um conflito, é criado. Afinal, Ruby se divide entre ser leal e permanecer com a sua família ou seguir seu sonho e tentar uma bolsa de estudos na faculdade de música. Os minutos não se arrastam, os diálogos são gostosos de se escutar e não existe o peso dos estereótipos. Os pais de Ruby não fazem a fama de rígidos, pelo contrário, são tranquilos e de bem com a vida, o que torna a produção madura e interessante, em especial nas situações super normais e cotidianas que se passam dentro da casa de uma família de surdos, resultando em cenas cômicas para tirar boas risadas de qualquer espectador. E o melhor, a maior parte do filme prioriza a linguagem americana dos sinais sem a tensão avassaladora de “O Som do Silêncio”.   

 Há ainda outros méritos que destacam a produção: o filme não dá muita audiência para tristeza, discursos de ódio ou temas pesados que, apesar de existirem e fazerem parte do enredo, são ofuscados por uma família que te acolhe em todos os sentidos. Todos os personagens são amáveis e cativantes. Ainda é possível ressaltar a construção de Leo, irmão mais velho de Ruby, também surdo, que sente-se impotente por não conseguir cuidar e ser responsável pela família, dando à Ruby a liberdade para ser quem ela gostaria de ser.

A virtude do amor, a união e a lealdade são exaltadas ao longo de todo filme. Temas que, infelizmente, não são tão abordados atualmente. Pelo menos não com essa sutileza. “CODA” aquece o coração e te faz chorar. Não tenha dúvidas, isso vai acontecer com você. E quando acontecer, aproveite. Pois essa é uma sensação que vale a pena viver.

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Foto: Divulgação

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