
Omelete de batata
Pelo Chef Manuel Alves Filho
Quando era garoto, um dos pratos mais celebrados lá em casa, preparado pelas mãos do meu pai, o velho Neco, era a “omelete de batatas”. Quando ele anunciava a especialidade no cardápio do dia, a família vibrava. Eu não chegava a dar socos no ar, mas hoje, pensado bem, considero que deveria, pois aquela delícia tinha mais valor que dois ou três gols.
Aquela omelete, creiam, era uma maravilha. Primeiro, Neco cortava as batatas em rodelas médias (mais grossas que o padrão “chips”) e as fritava em óleo não muito quente. Depois, deixava as rodelas escorrer em papel toalha. Em seguida, em outra frigideira, dourava uma porção generosa de cebolas, com uma pitada de sal e outra de pimenta do reino. Ato contínuo, acrescentava as rodelas de batatas, um chuvisco de cheiro verde e meia dúzia de ovos batidos.
Neco então tampava a frigideira e esperava que a parte inferior cozinhasse, em fogo amigo. Depois, com a ajuda de um prato, virava a omelete e aguardava a cocção da outra parte. O resultado era uma omelete cremosa, etérea e deliciosa, que meu pai servia com salada de folhas, arroz e feijão.
Ah, quanta saudade!
Somente mais tarde fui descobrir que a “omelete de batatas” do meu velho equivalia à tortilha, patrimônio gastronômico da Espanha. Em tempos de carne bovina caríssima, esta criação deveria reinar absoluta.