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Estatuto do Refogado do Sandi teve um único artigo até hoje
Erazê Martinho inventou essa história para diplomar Gisela como “Deretora”
Edu Cerioni
Gisela Andrade Vieira é quem toca o Refogado do Sandi desde a morte de seu criador, Erazê Martinho, em 2006. E ela recebeu das mãos desse que foi o grande folião de Jundiaí, a quem chamava de “presidente”, um diploma assinado por ele que a qualifica como “Deretora Dra. Gisela” e informa ser um documento “exclusivo nos termos de seu recém-inventado estatuto”.
O “recém-inventado estatuto” não tem nenhum outro artigo ou o que quer que seja, foi um agrado com seu jeito brincalhão de ser de Erazê para eternizar seu carinho por essa advogada de 60 anos e que desde 1996 faz parte do bloco.
Lembra que foi convidada por Erazê para o desfile de estreia, mas não conseguiu ir por conta do trabalho, o mesmo se repetindo no segundo ano. Mas a partir de 1996 entrou no embalo da turma que já conhecia do Bar Sandi. Logo de cara criou a Comissão de Frente para facilitar a vida das mães com filhos. No caso dela, era para levar mais tranquilamente os cinco sobrinhos então com idades entre 6 e 10 anos (Camila, Carolina, Maria Eugênia, Ana Luísa e Ignácio).
Com seu jeitão, Gisela superou em 2020 Erazê em desfiles à frente do Refogado, 14 para ela e 13 para ele, que foi vereador petista. O da despedida de Erazê não reuniu mil pessoas. Nos últimos anos, são milhares e milhares nas ruas, festa que não pôde se repetir agora em 2021 por conta da pandemia do novo coronavírus – mas que não passou em branco, porque contou com o “Baile Virtual de Carnaval”, promoção da Spritz Cereser em parceria com o JundiAqui.
O samba “Preconceito sem Efeito” de 2010 foi uma homenagem do Refogado a ele mesmo. Gisela, que é devota de Nossa Senhora Aparecida, rezando antes de ir para o desfile – todo ano vai até o Santuário de Aparecida agradecer -, tem seu nome lembrado no samba de 2014 e voltou a ser citada em 2019. No primeiro, a letra diz “São vinte anos, coração vai explodir/Com Pardal, Tutu, Gisela, Ana Regina e Ademir”. O de 2019, que fiz junto com Tom Nando, conta que “Tá tudo dominado/O Refogado é um babado/O Erazê deu pra Gisela o seu legado”.
Foi durante 2015 que Gisela preparou com a ajuda de outros refoguenses um dossiê que acompanhou o processo de registro do Bloco Carnavalesco Refogado do Sandi como Patrimônio Cultural Imaterial de Jundiaí, uma espécie de inventário desde suas origens e até a afirmação de destaque no cenário da nossa cultural popular.