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Faixa em cortina velha colocou Martinelli na política
Um fenômeno das urnas, Gustavo Martinelli assumiu a Prefeitura de Jundiaí nesta quarta-feira, 1º de janeiro de 2025, sob muito aplauso no Teatro Polytheama. Aos 39 anos de idade, completados no último dia 26 de dezembro, tornou-se o 29º prefeito da cidade.
Abriu o discurso agradecendo a confiança da população que lhe rendeu mais de 125 mil votos, mesmo sem ter a candidatura liberada pela Justiça Eleitoral, depois recordou suas origens humildes, destacando a força do pai que recolhia sucata das usinagens e a fibra da mãe nordestina que trabalhou de empregada doméstica, seo Valdir Aparecido Ferreira Martinelli e dona Inês Pereira de Almeida Martinelli.
Garantiu que “teremos um governo participativo, um orçamento participativo, vou voltar o café da manhã com o prefeito, receberemos as comunidades, os presidentes de associações, essa é a minha característica, sou acessível e teremos um governo para todos. Vamos colocar ordem na casa”.
Essa história na política do marido da dentista Ellen Camila e pai de Arthur, de 7 anos, e da Manoela, 4, começou quando ele tinha 18 anos de idade e depois de uma greve de estudantes.
Na primeira candidatura a vereador já somou 981 votos em 2004 e, embora não sendo eleito, foi o suficiente para receber um convite para administrar o Centro Esportivo Francisco Dal Santo. Em 2008 se elegeu com 3.018 votos, o quinto mais lembrado e o primeiro do PSDB. Em 2012 foi uma barbada: 5.118 votos e líder das urnas. O mesmo se repetiu em 2016, com 7.217 votos, o recorde histórico de Jundiaí – depois foi quebrado e agora é de Quézia de Lucca, 8.020 em outubro passado.
A candidatura a deputado estadual em 2020 lhe rendeu 47.812 votos, outra vez líder, mas agora sem conseguir uma vaga na Assembleia Legislativa. Em 2022 saiu como candidato a vice na chapa de Luiz Fernando Machado, que acabou reeleito com folgas, total de 134.793 votos logo no primeiro turno – quatro anos antes, o vice de Machado foi o médico Antonio Pacheco.
Pelo que se dizia à época, Martinelli, que em 2020 tinha se desligado do PSDB, seria o candidato natural a prefeito em 2024 e com apoio de Machado. Algo mudou no caminho, o prefeito resolveu apoiar seu gestor de Finanças, José Antonio Parimoschi, e outra vez Martinelli se revelou um fenômeno de votação, contrariando a lógica de que Machado faria seu sucessor até no primeiro turno. Parimoschi ainda levou vantagem em 6 de outubro, 104.180 contra 93.921. Mas dia 27 de outubro veio a grande virada, a maior da história da política local, com Martinelli (concorrendo pelo partido União Brasil) subindo a 125.712 e Parimoschi (do PL, a exemplo do padrinho Machado, ambos também ex-PSDB) caindo para 87.832. Vitorioso, ele ainda teve que brigar na Justiça Eleitoral até 6 de dezembro para então se tornar prefeito.
Se foi Ary Fossen que lhe colocou no centro esportivo da Vila Rami, quem havia lhe dado o empurrão para entrar na política foi Miguel Haddad, o único a ser três vezes prefeito de Jundiaí. Haddad viu no jovem nascido na Vila Comercial um potencial e o apoiou, diferentemente do que fez na eleição de 2024, quando acabou do lado derrotado.
Como contou em entrevista à “Tribuna de Jundiaí”, Gustavo Martinelli estudou em escola pública. Primeiro ganhou destaque quando era aluno da Escola Estadual Rafael Mauro, na Vila Maringá. Não teve dúvidas em pegar uma cortina que tinha sido retirada da sala de aula para ser lavada e a usou como faixa para protesto. Escreveu nela “Escola abandonada, Governo do Estado não faz nada!”, esticou em ponte sobre a rodovia Anhanguera, com resultado imediato: repercussão nos jornais e mobilização estudantil que culminou na reforma da escola. Criou-se até uma rádio interna que tinha o agora prefeito como locutor no horário de intervalo.
O colegial foi na Escola Estadual Joceny Vilela Curado, na Vila Comercial, essa com greve e tudo. Sua turma conseguiu o segundo lugar em um concurso chamado “Trânsito em Transe” e o prêmio era computador, scanner e impressora, o que gerou um furor na época. Só que não: os equipamentos não foram parar nas mãos dos alunos. Indignado, ele reuniu o pessoal e foram à luta.
Martinelli liderou protesto nas ruas com cerca de 700 participantes após uma sindicância pela Delegacia de Ensino, na qual a vice-diretora disse que o material tinha sido levado à casa da diretora. A vice perdeu o cargo e Martinelli acabou expulso da escola – isso depois de ser intimado por PMs, que alegavam que tinha colocado vidas em risco.
Foram três dias de greve na escola até o afastamento da diretora e o retorno da vice e do presidente do grêmio estudantil. Nascia uma liderança que parece ainda vai gerar muitos votos.
Para isso, ele conta com a lealdade do vice Ricardo Benassi (Novo) e o trabalho dos secretários e outros chamados para o primeiro escalão e que deu posse neste mesmo dia 1º. É um desafio pelos próximos 4 anos, para que o sonho de comandar a cidade em que nasceu não se limite a uma única oportunidade, como ocorreu com Pedro Bigardi, por exemplo – quebrou a hegemonia do grupo de Haddad, Machado e outros ex-tucanos em 2012, mas que minguou na eleição seguinte.
Luiz Fernando Machado, por sinal, foi incluído no governo do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). É o novo secretário executivo de Desestatização e Parcerias, uma escolha feita após o PL exigir mais espaço na gestão – agora são três secretarias cedida ao partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Os secretários de Martinelli são: Esporte e Lazer: Rita Orsi
Cultura: Clarina Fasanaro
Assistência e Desenvolvimento Social: Luciane Mosca
Agronegócio, Abastecimento e Turismo: Marcela Moro
Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia: Humberto Cereser
Negócios Jurídicos e Cidadania: Edney Duarte Jr.
Inovação e Relação com o Cidadão: Paola Faria
Planejamento Urbano e Meio Ambiente: André Ferrazzo
Infraestrutura e Serviços Públicos: Marcos Galdino
Mobilidade e Transporte: José Carlos Sacramone
Educação: Priscila Costa
Promoção da Saúde: Adolfo Martin da Silva
Segurança Municipal: Guilherme Balbino Rigo
Administração e Gestão de Pessoas: Lucas Lusvarghi
E mais outros nomeados: Comandante da Guarda Municipal: Cássio Nicola
Fundo Social de Solidariedade: Ellen Camila de Souza Martinelli
Superintendente da Fundação Serra do Japi: Flávio Gramolelli
Superintendente da FTVTEC: Junior Guarda
Superintendente da FUMAS: Jefferson Coimbra
Diretor Presidente da CIJUN: Michel Domingues
Diretor Presidente do IPREJUN: Cláudia George Museli Cesar
Presidente da Escola de Gestão Pública: Silas Feitosa.
A Secretaria de Governo e Finanças ficou com o vice Ricardo Benassi. Já a Casa Civil tem como interino Edney Duarte Jr.
Veja mais fotos de Martinelli dos arquivos do JundiAqui:
3 thoughts on “Faixa em cortina velha colocou Martinelli na política”
Que legal! A foto do Gustavo na solenidade dos 50 anos da Academia Feminina de Letras! Obrigada, Edu. Gostei
Muito da história de vida e das lutas estudantis! Pois é, foi até expulso da escola! Valeu. Obrigada Edu.
Belíssima matéria, querido Edu. Mais uma pérola. Como sempre
Linda e verdadeira a trajetória do nosso prefeito eleito ! Parabéns Edu ,pois tudo foi retratado de forma real !