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O empate do Brasil
Por Cláudia Bergamasco
Domingo, 17 de junho de 2018. Três horas da tarde em ponto e a cidade parou. Nem um pio lá fora. Só passarinhos cantando alheios à tensão sem limites de milhares de torcedores em seus sofás. Senta, levanta, solta o verbo desaforento para desopilar o fígado e liberar a tensão. A bola rola no campo russo e o Brasil está por um triz. Ao longe, um ou dois fogos de artifício – soltar simplesmente porque comprou e não porque gostou do jogo.
Copa do Mundo, primeira performance do Brasil. A fé cega nos jogadores, na sorte, na jogada certeira, no erro do adversário. As mãos suam, a pele se colore de rubro da testa aos pés. Huuuu… haaaaaa…. nããão… vai, vai, vai, huuuuu…. palavrões e onomatopeias se tornam válvulas de escape. Nessa hora vale apelar para todos os santos e os santos, segundo a torcida, não consideram os desaforos ao time adversário.
Comida e bebida na mesa de centro em frente à TV grande e moderna. Uma jogada quase lá, um desatino e a mesa vira. Caem todas as bebidas e comidas. Mais palavrões cuspindo ira e esperança. Chegaremos lá hoje? Unhas roídas, olhos afogados em serotonina, coração batendo a 180 por segundo, quase um infarto.
Segundo tempo e nada. Joguinho apagado, sem graça, duelinho chato.
A cidade continua um cemitério. Jogo encerrado. Deu empate. O Brasil patinou na largada.
Caracoles! Não faz assim, Tite. A gente num guenta!
E a cidade continuou em silêncio. Decepcionada.
Ô duelinho sem graça.