Chaminé da Argos: perto do adeus?
A chaminé de 110 anos da Argos Industrial S.A. que faz parte do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de Jundiaí pode estar com seus dias contados.
Depois de sofrer rachaduras severas por conta de um raio que a atingiu na tarde da última segunda-feira (27), a estrutura de tijolos aparentes vem sendo avaliada por engenheiros para saber se poderá ou não ser mantida.
Aparentemente, dá a entender que poderá ser implodida, mas a luta de Jundiaí é para mantê-la – e isso significa que vai precisar ser imediatamente restaurada.
A área no entorno da chaminé na Vila Arens foi isolada dentro e fora do Complexo Argos, espaços abertos e que servem para estacionamento de veículos – o exterior que fica na rua José do Patrocínio é ocupado também por feira livre nas noites de quinta.
A chaminé conta com um para-raios, que resistiu ao impacto. Mas tijolos que caíram dali acabaram danificando alguns carros, sem que ninguém ficasse ferido. Quem estava no Complexo Argos na tarde do temporal disse que o barulho foi assustador.
A chaminé da Argos é uma das sobreviventes da era de ouro das tecelagens de Jundiaí. Outros exemplares do gênero foram mantidos na Japy e na Fiação São Bento, todos na Vila Arens.
A chaminé é tombada pelo Condephaat, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, assim como os edifícios da Argos, sua creche e vila operária, resolução de 2017.
O texto de justificativa é o seguinte: “A Argos é o último remanescente têxtil-industrial que mantém leitura de conjunto em Jundiaí, cidade importante para este setor no Estado. Sua implantação na Vila Arens é fruto de condições favoráveis ao desenvolvimento industrial, como três ferrovias (Cia. Ituana, Cia. Paulista e São Paulo Railway), a existência de rios, a topografia da região e o fornecimento de energia elétrica pela Companhia de Força e Luz de Jundiaí. É uma empresa representante da segunda fase da industrialização têxtil paulista, em momento de expansão.
A creche, a primeira do município ligada a uma indústria, é remanescente de uma política de solidariedade horizontal, iniciada pelos trabalhadores. Os remanescentes da Argos utilizam concreto e elementos ornamentais que remetem à linguagem arquitetônica do Art Decó, distinta daquelas adotadas em instalações industriais já tombadas. As relações trabalhistas transcenderam o ambiente fabril, impactando nas relações sociais dos trabalhadores. Tais edifícios são importantes para a perpetuação da memória operária industrial, de fundamental relevância para a
compreensão da História paulista. A Chaminé marca a relação entre passado e presente”.
A história da fiação e tecelagem Argos confunde-se com a história de muitas famílias jundiaienses e com a história da indústria têxtil local e nacional, neste século. Foi fundada coincidentemente no dia 27 de fevereiro de 1913, sob a denominação de Sociedade Industrial Jundiaiense. No mesmo ano, o nome foi alterado para Sociedade Argos Industrial. Entre 1917 e 1927, foram realizadas novas alterações na razão social: 1917 – Manufatura Italiana de Tecidos S.A.; 1919 – Trevisoli Borin & Cia Ltda.; 1925 – Manufatura Italiana de Tecidos S.A.; 1927 -Argos Industrial S.A., denominação que permaneceu até 1984. Depois disso virou Complexo Argos.
Durante muitos anos a tecelagem foi o carro-chefe da produção, e mesmo com a modernização da confecção não deixou de se mostrar inovadora. A Argos produziu gabardines (tipo de tecido) de primeira linha e o famoso verde-oliva para vestir o Exército. Administrada por Estevão Kiss durante 17 anos, a Argos cresceu; além de usar produções próprias de algodão, a empresa ainda comprava das cidades vizinhas. A plantação de eucalipto, no antigo brejo ao lado da fábrica, tinha como objetivo secar o solo e, na idade adulta, alimentar as caldeiras.
No início da década de 1980, a empresa foi decaindo em função de crises. Com a falência, a Argos fechou as portas e demitiu os funcionários, pondo fim num império industrial. Hoje, o local abriga o Complexo Argos, destinado à formação e capacitação de professores da rede municipal de ensino, a Secretaria Municipal de Educação, a Televisão Educativa de Jundiaí (TVE), o Instituto Federal de Jundiaí, a Biblioteca Nelson Foot e outros aparelhos públicos que dão nova vida à estrutura.