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Jundiaqui

30 de janeiro de 2018

Bola de gude

Por Nelson Manzatto

Brincadeira de criança é algo que não deveria desaparecer. Mesmo quando a gente se tornasse adulto. Deveria fazer parte de um modismo, sei lá… Algo que ninguém sabe explicar, mas que toda criança gosta de brincar. Desde que tenha com quem fazer isso. Brincar sozinho é algo que não deve ter muita graça. Claro que já brinquei muito sozinho. Conversando com um amigo que ninguém via, mas com quem eu até brigava. Parecia um louco, mas brincava e brigava. Cheguei até a criar uma emissora de rádio, tanto que gostava de falar em microfone. Uma rádio minha, que só eu falava e ouvia. Ninguém jamais imaginou a existência dela…

Mas gostoso mesmo era brincar de bolinha de gude – bolinha de vidro – principalmente quando se jogava “às ganhas”. Jogar “às brincas” não tinha tanta graça, mas era preferível, principalmente se alguém quisesse me transformar em “café com leite.”

Jogar “às ganhas” era realmente perigoso. Principalmente se perdesse as bolinhas que tinha levado para a brincadeira.

O jogo era “biroque” ou “triângulo”. No primeiro caso, fazíamos quatro buracos, num espaço de meio metro entre um e outro. Para vencer tinha que passar por todos os buracos e “matar” o adversário com uma “estecada” que mais tarde foi chamada de “fubecada”. Pronto! Se fosse “às ganhas”, levava a bolinha do adversário. Se fosse “às brincas”, começava de novo…
Jogar triângulo era mais perigoso, pois podia-se perder muitas bolinhas em pouco tempo. Riscava-se um triângulo no chão, colocando dentro dele um grande número de bolinhas, dependendo de quantos participassem do jogo. Ganharia as bolinhas quem conseguisse retirá-las do triângulo. Mas se a bolinha do jogador parasse dentro do triângulo, “queimava” o jogo e começaria tudo de novo.

Tinham bolinhas que todo mundo queria ganhar. Sempre aparecia um jogador com uma bolinha de gesso ou de aço. As de gesso eram as mais sonhadas por todos. Terminada a partida, quem tinha uma bolinha de gesso corria para lavá-la, para não perder a cor. A de aço também era lavada, mas a gente enxugava direitinho, para mantê-la brilhando.

Briga mesmo sairia se alguém, ao dar uma “estecada” na bolinha adversária a quebrasse. Pronto! Era motivo de se chamar o irmão mais velho para brigar com o outro garoto, principalmente se fosse mais forte que a gente…
E Ademir era, irremediavelmente, chamado a me proteger, a me defender. Apesar de sua baixa estatura, ele era respeitado no bairro. Ninguém brigava com ele, até porque Ademir sabia conversar, trocar idéias, “convencer” os garotos sobre sua opinião.

Aliás, em toda discussão que acontecia entre dois garotos, a coisa só terminava quando alguém dizia: “vou chamar meu irmão”. Pronto! Terminava a discussão. E se não terminasse, o irmão chegava e podia até alguém sair machucado. E aí vinha a mãe discutir com a outra mãe e todo mundo na rua ficava sabendo que alguém tinha apanhado. Ninguém queria virar gozação, por isso o ideal era terminar a discussão na hora do: “vou chamar meu irmão”.

Mas até hoje, não sei porque, não conseguia ganhar esses jogos de bolinha de gude. Saía com a unha do dedão da mão direita suja e gasta, de tanto tentar jogar a bolinha mais longe. O que não conseguia mesmo era “estecar” a bolinha adversária. Além da falta de pontaria, se acertasse não conseguia atingir os quatro palmos determinados pela regra para poder jogar mais uma vez. E como eu não conseguia jogar a bolinha adversária longe, lá vinha ela atirando a minha do outro lado da rua. Pronto! Fim de jogo, fim de brincadeira. Ia para casa, cabeça baixa, xingando pra ninguém ouvir, mas realizado por ter me divertido com aquilo que eu mais gostava: jogar bolinha de gude!!!

Nelson Manzatto é jornalista e escritor

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