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Jundiaí ganha sua “Memória LGBT”
Projeto contemplado com verba do Estado tem festa de apresentação na Argos
Edu Cerioni
O Espaço Segundo Andar, onde entre 1987 e 89 funcionou uma boate, foi o lugar escolhido por Rodrigo Tangerino e equipe para o lançamento do projeto “Centro de História Oral e Memória Social LGBT”, que gerou um site que se propõe a servir como um banco de dados virtual sobre o movimento da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros da cidade.
Tangerino reuniu na festa alguns dos primeiros homossexuais assumidos de Jundiaí, que deram emocionantes depoimentos. O que se fez ali foi lançar um olhar de valorização para um passado de luta e que serve de inspiração para os novos desafios que vão surgindo para esses indivíduos.
O encontro teve performances de antigos e novos transformistas, desfiles de roupas e acessórios para um público “colorido”, além de apresentações musicais e declamação de poesias.
Dentro do Complexo Argos, onde um dia funcionou o teatro anexo do grupo escolar, agora restaurado, teve ainda projeções, exposição de objetos, roupas e fotografias.
O desfile foi da marca Maria Antonieta, de Maurício Beltrami, com muita ousadia em metalizados em tons de rosa e roxo.
Duas gerações de performistas fizeram apresentações na dublagem de músicas, primeiro a estilista e mulher transexual Karol Della Lastra, que atua desde a década de 80, e depois Fanfoso, que despontou na cena artística ano passado.
Karol dublou “Memory”, distribuindo rosas vermelhas e indo às lágrimas, exatamente a canção que levou pela primeira vez aos palcos e também mostrada no “Programa do Bolinha”, na TV.
Também a rainha LGBT Jéssica Close se apresentou, carregada de faixas de diferentes concursos que venceu.
As advogadas Rose Gouvêa, fundadora da ONG Aliados e responsável pela Parada do Orgulho LGBTT de Jundiaí, e Kelly Galbieri, assessora de Políticas para a Diversidade Sexual da Prefeitura de Jundiaí, prestigiaram o lançamento do projeto contemplado pelo ProAC 2017 – Programa de Ação Cultural, fomentado pelo Governo do Estado de São Paulo.
Rose destacou que a luta de todos é pelo respeito das individualidades. Kelly lembrou que em 17 de maio haverá na cidade um mutirão para que o transexual possa trocar o prenome e o gênero no registro civil. “Começamos a ter o que comemorar”, avalia.
“A história oral vem servindo com muito êxito para conservar informações de grupos antes excluídos e pouco olhados, geralmente ocultos para a história oficial”, lembra Tangerino, homossexual e integrante do grupo CUME e dono da Leso Vídeo. “Dessa forma, resgatar essas histórias não contadas e estes espaços invisíveis é uma maneira de reativar a memória da luta e resistência LGBT e, consequentemente, estimular a identidade e o sentimento de pertencimento da comunidade”.
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Fotos: Edu Cerioni e Maria Fernanda Cerioni