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 Soutello e a Jundiaí para principiantes
29 de janeiro de 2025

Soutello e a Jundiaí para principiantes

Por Luiz Haroldo Gomes de Soutello – Um passeio pelos nomes das ruas centrais de Jundiaí pode ser uma boa maneira de ensinar aos principiantes os rudimentos da história da cidade. Especialmente se houver uma boa anedota associada a esses nomes. Vou exemplificar com a Rua Coronel Leme da Fonseca e com a Rua Siqueira de Moraes, que correm paralelas e cruzam a Rua Senador Fonseca.

Esses três figurões da sociedade local eram parentes de sangue. O Senador José Manuel da Fonseca casou com uma filha do Barão de Jundiaí, com a qual teve o filho único Coronel António Leme da Fonseca. Mas, de um relacionamento anterior, o Senador Fonseca teve filhas, uma das quais era mãe do Coronel Joaquim de Siqueira de Moraes. Portanto, o Coronel Leme da Fonseca era neto do Barão de Jundiaí, mas o sobrinho, Coronel Siqueira de Moraes, não era bisneto do Barão. Talvez isso explique por que o Coronel Leme da Fonseca era monarquista enquanto o Coronel
Siqueira de Moraes proclamou a república em Jundiaí, em um episódio pitoresco narrado por Tarcísio Germano de Lemos no livro “Eu e Petronilha” (2003).

Ao longo da década de 1880, ainda durante o reinado de Dom Pedro II, o Coronel Siqueira de Moraes era o chefe dos propagandistas municipais da república. Em 1888, organizou um evento
republicano e, para isso, solicitou o uso de um teatro. Não era o Polytheama, que só foi construído em 1911. E o responsável por esse outro teatro era Thomas Peacke, coronel reformado do Exército britânico, que durante muitos anos foi o chefe da Estação Jundiaí da São Paulo Railway. Em um primeiro momento, o Coronel Peacke concordou em ceder o teatro para o evento republicano, mas depois voltou atrás, supostamente por determinação do Coronel Leme da Fonseca. O Coronel Siqueira de Moraes fez um protesto pela imprensa (Estadão de 16.12.1888, página 2), alegando que aquilo era cerceamento do direito de reunião, mas precisou procurar outro local para realizar o evento.

Não sei se é tradição oral verídica ou se é apenas uma pilhéria antiga, mas dizia-se que nessa época havia em Jundiaí um sujeito conhecido como Cavaquinho, que vivia de ser louco. Como louco,
autêntico ou simulado, não precisava trabalhar, porque as almas caridosas da cidade o sustentavam, em um padrão de vida modestíssimo, é óbvio, mas que ele preferia a ter que trabalhar. E dizia-se que um correligionário político do Coronel Leme da Fonseca teria oferecido dinheiro ao Cavaquinho para que ele tumultuasse o evento republicano do Coronel Siqueira de Moraes, vociferando algumas das loucuras que costumava dizer por aí. Porém, o Cavaquinho teria recusado, alegando:

– Aqui em Jundiaí, para ser louco a gente precisa ter muito juízo.

Luiz Haroldo Gomes de Soutello é membro da Academia Paulista de História e da Academia Jundiaiense de Letras

OBS: Fotos de Siqueira na escola que o homenageia com seu nome e que fica no Vianelo

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