
MINUTO DE SILÊNCIO – Sergio Bonganha, olhar autêntico em 40 anos de casamentos
O cinegrafista sempre entendeu que o mais importante era o amor
Edu Cerioni
Sergio Roberto Bonganha perdeu as contas de quantos casamentos filmou ao longo de mais de quarenta anos de profissão. Tinha um olhar todo seu para noivos, familiares e convidados, que sempre se sentiam bem a vontade diante da câmera daquele gordinho sorridente. Muitos casamentos não duraram o tempo prometido no altar, mas os vídeos estão aí e registram momentos de puro amor, de muita felicidade.
As filmadoras foram mudando, as tecnologias avançaram de U-matic a VHS, de DVD a FullHd, sendo que soube acompanhar o salto do analógico ao digital sem nunca perder o foco e, mais importante, a alegria no que fazia.
Também tinha prazer em editar o material colhido em igrejas, salões e em todo tipo de festividades, usando recursos e efeitos diversos. Com sua Klass Vídeo salvou muita fita de antigos casamentos, remasterizadas e eternizadas digitalmente.
O nome Klass veio das iniciais de Katya, Luciana, Alexandre, Sonia e Sergio. Seu nome e dos três filhos e o da esposa, todos envolvidos em algum momento na profissão de cinegrafista e/ou fotógrafo. Sonia começou junto, depois vieram as filhas, mas elas foram por outros caminhos profissionais. Quem agarrou a ideia mesmo foi o caçula Alexandre, que pegou gosto e não largou mais a paixão herdada do pai.
Juntos, fizeram aquele que seria o último casamento de Sergio em setembro passado. O filho diz que a lição que aprendeu é que “uma história de amor para ser perfeita precisa de um filme, e que este precisa de um olhar único para o momento”.
A escolha pela profissão não foi fácil. Sergio sabia que tinha um diferencial para registrar imagens, tanto que trabalhou no “Jornal de Jundiaí” e no “Jornal da Cidade”, mas imaginava outra coisa para o futuro. Tanto que fez Técnico em Química e depois se formou em Direito pelo UniAnchieta. Nunca advogou. Quando foi fazer um júri simulado, notou que gostaria mais de filmar e fotografar aquilo tudo do que propriamente defender ou acusar alguém. Foi quando viu na criação da produtora de vídeo o caminho para ele e a família que começava a constituir.
Sobre sua passagem na Imprensa nos anos 70, João Carlos Martinelli, com quem trabalhou, o definiu como “um competente repórter-fotográfico, um dos mais brilhantes”.
Para Cleber de Almeida, ele sempre foi um amigo de fotógrafos e cinegrafistas, desde veteranos como Antônio Gallo Neto e Ernesto Zambon até a nova geração e que, com seu jeitão camarada, “já deixa muita saudade”.
Sergio fez parte da famosa Turma da Paulicéia e curtia o Clube Jundiaiense.Bom papo, gostava de uma cerveja e mais ainda de um Campari, que o rodar de dedo no gelo sempre vinha acompanhado de uma história. Amigo do chinelão e da bermuda, adotava um colete preto para as filmagens de casamento.
Nascido em Piracicaba, morou com os pais em diferentes cidades do Interior, até que se fixaram aqui, onde o filme de sua vida chegou ao fim muito rápido. Tinha problemas de saúde que se agravaram agora em maio e brigou valentemente entre os dias 3 e 26 no Hospital São Vicente, mas acabou vitimado pelo vilão do novo coronavírus aos 68 anos de idade.
Fotos: reprodução Facebook de Isaias Produções Fotos & Vídeos e outros