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Jundiaqui

 Morre no São Vicente um dos mais odiados da ditadura, Cabo Anselmo
16 de março de 2022

Morre no São Vicente um dos mais odiados da ditadura, Cabo Anselmo

Ele foi chamado de “o anjo exterminador”, um agente duplo e que tinha trocado de identidade

José Anselmo dos Santos morreu aos 80 anos nesta terça-feira (15) em Jundiaí. Poucos vão saber de quem se trata por esse nome. Mas basta lembrar que ele era o Cabo Anselmo para gerar medo e revolta em grande parte dos brasileiros.

Cabo Anselmo foi um gente infiltrado da ditadura, que foi a Cuba treinar guerrilha e no regresso passou a colaborar com o regime militar. Um espião infiltrado nos movimentos de esquerda que levou dezenas, se não centenas de militantes para a tortura e à morte.

Cabo Anselmo morava em Jundiaí com identidade falsa e sofreu de um mal súbito.

Nascido em Sergipe, no dia 13 de fevereiro de 1941, esteve na clandestinidade desde os anos 70, isso depois de passar por uma cirurgia plástica para não ser reconhecido.

Anselmo foi o mais conhecido agente duplo da ditadura militar e afirmava que delatou militantes da esquerda para não ser morto. Ganhou destaque na mobilização de marinheiros que antecedeu o golpe contra o presidente João Goulart, em março de 1964. Foi preso e cassado logo no início do novo regime.

Em 2012, teve negado pedidos de indenização feito ao governo federal e para ser reintegrado à Marinha. A Comissão de Anistia, ao rejeitar o pedido, pôs em dúvida desde quando o ex-militar passou a colaborar como o regime. O parecer citava, por exemplo, declaração do chefe de Inteligência do governo Goulart afirmando que Anselmo era um “agente provocador da CIA desde os eventos que antecederam o golpe”.

O ex-militar afirmou em entrevista nos anos 1980 que fugiu da cadeia, em 1964, “pela porta da frente”. Foi para o Uruguai e viveu no Chile. Em 2011, concedeu entrevista ao programa “Roda Viva”, na TV Cultura. Disse que vivia de ajuda paga por três empresários. Não se sabe desde quando optou por morar na região.

Cabo Anselmo foi presidente da Associação dos Marinheiros nas vésperas do golpe militar de 1964 e se notabilizou como o personagem que traiu a esquerda. Como líder dos marinheiros, ocupou o mesmo palanque do Automóvel Clube do Rio de Janeiro, no dia 30 de março de 1964, onde João Goulart faria o inflamado e derradeiro discurso como presidente, horas antes de ser derrubado do poder e partir para o exílio.

Preso na ocasião, Anselmo fugiu da cadeia do Alto de Boa Vista alguns dias depois e seguiu para São Paulo. Mais tarde, foi para Cuba, onde recebeu treinamento e voltou ao Brasil como quadro de peso das organizações envolvidas na luta armada. Tinha saído do país como membro do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR) de Leonel Brizola – com quem chegou a conviver no Uruguai – e retornou para ingressar na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) do ex-capitão Carlos Lamarca.

Não há registro de confrontos de que tenha participado, mas é certo que mergulhou na clandestinidade depois de voltar do exílio, circulou pelas organizações de esquerda, participou de encontros com vários dirigentes – entre eles, o próprio Lamarca – e ajudou a montar a infra-estrutura do grupo para as ações armadas. Sua história política sofreu uma guinada surpreendente em maio de 1971 quando, no dia 30, segundo a cronologia oficial, teria caído nas mãos da equipe de Fleury. O guerrilheiro preparado em Cuba se transformaria no “agente Kimble” que, sob as ordens do mais temido delegado da repressão e símbolo da tortura, confundiria a esquerda e atrairia seus ex-companheiros para as armadilhas montadas pelos órgãos de informação.

Carteira Preta foi um dos policiais que participaram da prisão de Anselmo. Conta que, para chegar até ele, bateu de porta em porta num bairro de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, até descobrir o endereço que a esquerda preparara para abrigar vítimas de supostos sequestros.

O papel de Anselmo como informante infiltrado na esquerda foi a pá de cal num movimento guerrilheiro sem estrutura para enfrentar o braço armado do Estado. Sua contribuição ao regime seria uma verdadeira tragédia para a esquerda e ajudaria Fleury a se tornar o policial mais forte da repressão política. Anselmo tinha informações concretas sobre a estrutura das organizações armadas e sabia quem eram e o que pensavam os guerrilheiros que ameaçavam o regime. Passou tudo para Fleury.

Seguindo orientação da polícia política, Anselmo manteve em segredo sua segunda prisão e, passando-se ainda por ativista, continuou frequentando aparelhos e participando de pontos com seus ex-companheiros. Foi a partir dele que Fleury montou o esquema de vigilância em torno dos guerrilheiros que, de campana em campana, resultaria numa infinidade de casos de prisão, tortura e mortes, até o aniquilamento completo da guerrilha.

Fontes: UOL, G1, No Mínimo. Foto: reprodução TV Cultura e arquivo nacional

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