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Jundiaqui

 São Pedro que estais no céu
29 de junho de 2024

São Pedro que estais no céu

Por Edu Cerioni – Para muitos vai parecer coincidência. Eu acredito em persistência, em garra que sempre lhe sobrou para brigar por Justiça aos mais fracos e pobres e assim Pedro Fávaro Jr foi driblando as dores, os dias e noites mal dormidos, lutando contra o câncer e será enterrado em Jundiaí exatamente neste Dia de São Pedro!

Eu o chamava na brincadeira de São Pedro já havia uns trinta anos ou mais. Foi assim: a gente saiu na madrugada do jornal “Correio Popular” de Campinas, noite de rodada de futebol, e voltávamos para Jundiaí no maior papo. Estrada deserta dá pra conversar olho no olho. De repente, ele grita: “Olha a vaca!” e bate a mão no volante para a esquerda. O carro desvia. Arregalo os olhos para ele assustado e ele berra: “OLHA A VACA!” e puxa o volante da Brasília para a direita. Virou meu São Pedro!

Explico: duas vacas caíram de um caminhão e quebraram as patas e nós passamos em ziguezague por elas logo em seguida. Tivesse batido, a história não seria tão gostosa de relembrar, quem sabe se teria sido contada… de certo, rimos muito dela em nosso último encontro, em abril, quando fui visitá-lo em sua casa e gravei seu depoimento para o Podcast “Maria dos Pacotes”, que vou lançar em agosto próximo. Ele foi quem escreveu o prefácio do livro de mesmo nome que lancei em 2022.

Eu e Pedrinho trabalhamos juntos muitos anos em jornais, primeiro no Correio Popular em Campinas e depois no JT/Estadão/Agência Estado em São Paulo, sempre eu dando carona a ele, que bancava o pedágio. Por muito tempo também ia nessa “barca” Fábio Pescarini, que não viveu aquela madrugada santa. Em tempo: o caminhão que transportava vacas estava parado mais à frente e o motorista voltava a pé com galhos de árvores na mão para sinalizar a pista e nós seguimos para chamar o socorro.

Jornalista, com passagens por diversos jornais aqui na cidade, e escritor de mão cheia, Pedro Fávaro Jr também se tornou diácono da Igreja Católica. Foi editor do Jornal O Verbo. É autor dos livros “O Freguês” e “Os Jardins de Sofia” e do e-book “O Espelho de Cícero”. Ultimamente estava na Assessoria de Imprensa da Unicamp.

Jornalistas “das antigas” se reuniram com ele três meses atrás na chácara de Denílson Azzoni para uma grande celebração da vida, recheada de papo e muitos brindes – o dele sem álcool. Consciente da voracidade da doença, Pedro fez uma despedida programada ao longo dos últimos anos em encontros com quem era seu amigo de verdade no café da manhã que marcava em padarias da região da Vila Rio Branco, seu reduto de coração. E é incrível, era ele, mesmo com aparência abatida, quem acalmava os corações.

No adeus neste 28 de junho, em sua casa, esteve rodeado da esposa Sônia e dos filhos Tatiana, Mari e Peu e pediu que “na hora do meu chamado” primeiro eles rezassem e, em seguida, comemorassem. E assim se fez.

PARA SEMPRE – “Freguês” foi lançado simultaneamente no Brasil, Portugal, Angola e África do Sul. Traz a história de pessoas que vivem na praça, nas ruas de uma cidade no interior de São Paulo e para as quais ninguém dá atenção por julgá-los como “estorvos”. O romance tenta mostrar que essas pessoas chegam ao abandono empurradas pela orfandade, pela violência doméstica praticada por madrastas ou padrastos e tomam gosto pela vida, pela cultura da rua e se viciam nela.

“Os Jardins de Sofia” é um romance que trata do rompimento repentino da rotina de uma escritora sexagenária que se vê envolvida numa viagem inesperada, em meio a cenários fantásticos com seres misteriosos – um labirinto desvendado à medida que ela aceita os desafios e avança.

“O Espelho de Cícero” revela as precárias condições de existência na Terra, assolada por uma onda de calor terrível. Nesse cenário, Cícero espera apenas ver apertado o botão misterioso da hecatombe, que arrastou sua criança pelo mundo dividido em listras e estrelas de um lado e a foice e o martelo do outro. Mas um achado misterioso dá outro rumo para sua história.

DO CORAÇÃO – Nosso encontro era marcado sempre por um beijo no rosto. Foi assim no aniversário de Jundiaí, em 14 de dezembro de 2023, quando um coro saudou o Pedrinho na reabertura do Centro das Artes, rebatizado com o nome de Pedro Fávaro, seu pai e ex-prefeito – foi homenageado junto com a irmã Gisele. Se disse emocionado com todo o carinho.

Além dos filhos, deixa uma neto e um neto para os quais sempre tinha histórias fantásticas para contar, algumas vividas por ele.

Diácono permanente da Igreja católica há quase 30 anos, ele estava ligado à Paróquia São Vicente de Paulo, da Vila Marlene, onde será celebrada missa neste 29 de junho, às 11h30. O sepultamento será às 14h, no Cemitério Nossa Senhora do Desterro.

SEM DISCRIMINAÇÃO – Pedro Fávaro Jr integrava a comunidade católica Diversidade & Fé, da Diocese de Jundiaí, formada por pais e mães, familiares, amigas e amigos, apoiadores/aliados e por pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e trans) e em janeiro de 2023 escreveu um artigo forte para o JundiAqui, o último de uma série que começou em 2014.

Diz assim um trecho: “A Câmara de Jundiaí aprovou o projeto de lei 13.838/2022, instituindo e incluindo no Calendário Municipal de Eventos o ‘Dia da Família’, a ser comemorado em 8 de dezembro. O projeto considera como família ‘a união amorosa e afetiva entre o homem, mulher e sua prole’. Foi montado e proposto por nove vereadores de sete partidos diferentes. O aspecto moralista da nova lei – de um falso moralismo, diga-se –, revela um total desconhecimento da realidade nua e crua de nossos tempos, o que a torna discriminatória e parcial”.

Fica o recado e aqui um trecho da oração de São Pedro: “…antes me seja arrancado do peito o coração do que o amor”. Brilhou!

Aqui uma poesia que escreveu para o “Varal Poético do JundiAqui” em 2018:

E algumas fotos que fiz dele ao longo dos anos…

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2 thoughts on “São Pedro que estais no céu

Marilzes Petronisays:

Que linda homenagem Edu. Amizade assim é para sempre. Parabéns.

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Que texto lindo….parece que vejo o Pedrinho fazendo tudo isso!!!

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