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A velha caixa de costura
Por Wagner Ligabó
Vez ou outra pego uma camisa que subiu passada direto para o cabide de meu guarda-roupa e ao vesti-la sinto falta de um botão.
Não sou de incomodar a cara-metade por detalhes simples como esse e, sabendo onde fica a velha caixa de costura que nos acompanha desde o casamento, por que não eu mesmo realizar a costura? Afinal sou cirurgião ou não?
Abro a caixa em busca da linha e agulha adequada e ao ver aquele enovelado de fios, a princípio, desanimo. Minha mulher arruma e eu, um eterno apressado, desarrumo.
Mas, com paciência tibetana, vou pouco a pouco tentando entender o que acontece, separando pacientemente aquele embolado até obter o meu intento em separar o que servirá à minha costura. Calma, determinação e objetividade te levam ao sucesso. Repito este mantra diversas vezes antes de desanimar.
Então, enquanto tento organizar o desalinho que pela pressa causei, fico pensando: a vida política mesquinha é igual a isso aqui, só que não se consegue dar jeito. Pode até se tentar, mas não se consegue.
Nossas vidas seguem regras políticas para tudo. Sem boa política a sociedade não se sustenta. O que preocupa é que na política eleitoreira tem pouca gente que quer as coisas ordenadas com responsabilidades efetivas. As boas ações são ignoradas muitas vezes. É muito mais fácil criticar, não se importar ou até mesmo desarrumar propositalmente do que pôr ordem. É muito mais fácil agitar sem responsabilidade do que colaborar com ações efetivas.
Olho novamente para a caixa com este olhar político crítico: são tantos nós enroscados, são tantas linhas que se cruzam sem explicação ou se rompem fácil, são tantas cores destoantes, é tanta bagunça que o melhor é fechar a caixa de costura, desencanar e ir embora sem pregar o tal botão. É mais fácil!
Agora, neste viés, o que dizer da qualidade de costureiras -não as legítimas e ordeiras trabalhadoras, exemplos femininos – mas as que não são muito afeitas a pegar no pesado e preferem veranear se considerando especialistas em política? Estas deveriam antes de saírem costurando por aí especializarem-se em arrumar suas caixas de costura, rever suas linhas e agulhas, pois certamente o cerzido oferecido sempre será de péssima qualidade.
Mas, infelizmente, como em nosso país hoje compra-se tudo o que se apresenta sem checar a origem do produto, cada vez mais, vamos perdendo qualidade no que nos é oferecido como nação.
Pelo andar da carruagem chegará o momento em que ninguém perceberá que sua camisa está sem nenhum botão, pois alguém numa página qualquer dos Facebooks da vida, dirá que a moda agora é essa e se não usar assim será uma vergonha e todos, os ditos amigos, acreditarão. É o nosso mundo virtual das verdades!
Eu prefiro pacientemente pregar o botão, ter a consciência que fiz o correto, que a costura valeu a pena, fechar com cuidado a velha caixa de costura – pois se bem utilizada durará para sempre – e que deu pra sair a tempo para mais um dia produtivo de trabalho.
Boas costuras: é só disso que o Brasil precisa!
Wagner Ligabó é médico cardiologista e vereador em Jundiaí